Conferência Niterói 2026

Deslocando o Primeiro Cinema: Encontros, Embates e Espaços

19º Congresso Internacional da Domitor
Universidade Federal Fluminense
Niterói, Brasil, 10 a 13 de junho de 2026

O último congresso da Domitor questionou as periodizações e limites tradicionais da historiografia do cinema ao sugerir um “longo primeiro cinema”, reconhecendo que as tecnologias e técnicas cinematográficas surgiram e se transformaram em ritmos diferentes ao redor do mundo. Mas as questões temporais não podem ser dissociadas das questões espaciais: o espaço de exibição, o ambiente registrado ou encenado diante da câmera, a localização das indústrias cinematográficas, e a geografia da circulação internacional de filmes — e ainda o lugar ocupado pelos próprios acadêmicos e arquivistas. O 19º congresso da Domitor parte dessas linhas de reflexão para incentivar o deslocamento dos pressupostos espaciais e historiográficos do primeiro cinema.

Os(as) historiadores(as) do cinema estudam há muito tempo os circuitos globais dos primeiros filmes, rastreando as rotas criadas pelos empresários para exibir seus filmes ao redor do mundo e examinando como exibidores locais adaptavam cópias importadas aos seus mercados, modificando seus títulos ou montagens para atender às instâncias censórias e atrair o público local. Estudiosos(as) do primeiro cinema também tem se dedicado aos muitos espaços itinerantes, para além das salas de espetáculos, onde o cinema era encontrado na virada do século XX, deslocando sua atenção dos teatros para as feiras, as escolas e as igrejas — e até mesmo para locais de consumo de bebidas, como exemplificam a cervejaria-cinema no Brasil ou o bar-biógrafo na Argentina. Mais recentemente, o conceito de espaço tem oferecido uma perspectiva produtiva para pensar o deslocamento físico de pessoas, recursos e objetos (arquivísticos, inclusive) e para desafiar pontos de vista e estruturas historiográficas arraigadas no Norte Global.

As representações espaciais do primeiro cinema forneceram um dos fundamentos epistemológicos para o mapeamento perceptual e ideológico moderno do espaço. As imagens em movimento ofereceram ainda a base visual e comprobatória para o estabelecimento da geografia como disciplina moderna e seu uso vernacular na educação e na propaganda. Os gêneros do primeiro cinema, como os filmes de viagem e as atualidades, frequentemente construíam representações visuais de paisagens vazias e lugares atrasados que apoiavam os projetos colonizadores e as pretensões civilizatórias. Tropos coloniais visuais que circulavam em fotografias, aparatos óticos e nos primeiros filmes consolidaram compreensões binárias do espaço através do eixo metrópole e colônia, civilização e natureza. E as atrações pautadas na velocidade e mobilidade, no maquinário industrial e na observação científica objetificaram o planeta, sua biosfera e seus minerais como recursos para a extração capitalista.

A ideia de deslocamento contém em si a ideia de localização (do latim locus). Os(as) historiadores(as) do cinema, da cultura material e das humanidades cartográficas, desde a “virada espacial”, elevaram a localização — a paisagem fílmica, as rotas de circulação e intercâmbio, a geografia — em objeto privilegiado de pesquisa. Nos alinhando a essa linha de investigação, pretendemos revelar os “silêncios” do mapas cinematográficos. Do mesmo modo, mantemos uma intenção mídia-arqueológica na proposta deste congresso: deslocar o primeiro cinema é olhar além dos limites do seu mapa tradicional. Assim, é apropriado deslocar a própria Domitor, sediando nosso congresso, pela primeira vez, fora da Europa Ocidental e da América do Norte.

Sediar o congresso da Domitor no Brasil nos leva a pensar sobre um espaço, uma história, um clima e uma paisagem particulares. Por muito tempo, a América Latina foi negligenciada nos estudos sobre o primeiro cinema, embora a região tenha recebido um enorme fluxo migratório da Europa desde o final do século XIX, no que se constituiu em uma troca transcontinental de máquinas, profissionais e filmes que se estendia em ambos os sentidos. Desse modo, convidamos propostas focadas em práticas e aparatos cinematográficos esquecidos ou localmente ressignificados, em locais ainda poucos estudados e situados nas interseções entre produção, preservação e exibição cinematográficas, e em redes de migração e circulação negligenciadas — dentro e fora da América Latina. Que reflexões o enraizamento do primeiro cinema nesses espaços, locais e ambientes pode trazer? Que conexões seguir essas rotas e intercâmbios nos ajuda a estabelecer? Como a atenção à política e à ideologia das paisagens fílmicas e da cultura visual colonial presente no primeiro cinema muda nossa percepção das primeiras representações cinematográficas do espaço? O que significaria deslocar a Europa e a América do Norte como centros privilegiados da modernidade?

Os temas sugeridos podem incluir (mas não estão limitados a):

● Abordagens decoloniais/revisionistas à historiografia do primeiro cinema e aos métodos de pesquisa
● Implicações da virada espacial e da virada material na historiografia do primeiro cinema
● História e historiografia do primeiro cinema na América Latina
● O cinema de atrações no contexto latino-americano
● O desenvolvimento assíncrono do primeiro cinema em diferentes locais
● O papel da Domitor na descentralização dos estudos e da historiografia
● Como a localização impacta o acesso a recursos e ao conhecimento acadêmico e sua distribuição
● Histórias materiais do primeiro cinema
● Distribuição, exibição e recepção do primeiro cinema
● Histórias de intercâmbio e extrativismo no cinema
● Patentes, direitos autorais e pirataria transcontinental
● Conhecimento em trânsito: como ideias fílmicas, os topoi, os artefatos e os profissionais se movem, migram ou são traduzidos em novos locais
● A produção e exibição de filmes para além das salas de cinema
● Filmes de expedições, o filme etnográfico e a exploração colonial
● Primeiro cinema, imperialismo e a colonização da América Latina
● As culturas visuais coloniais do primeiro cinema
● O gênero na construção do espaço
● Representações de espaço e da paisagem no primeiro cinema e em dispositivos pré-cinematográficos
● O papel do primeiro cinema no estabelecimento da geografia
● Como o espaço é representado, na tela do cinema, em mapas, atlas e métodos gráficos
● O status científico e epistemológico das cartografias do primeiro cinema
● Análise mídia-arqueológica do espaço do primeiro cinema e do pré-cinema
● A proliferação de diferentes versões cinematográficas baseadas na censura local, nos mercados nacionais e na distribuição internacional
● Filmes perdidos e incompletos, lacunas arquivísticas e erros de identificação
● O impacto da localização e do clima na preservação cinematográfica e no acesso aos arquivos de films
● O arquivo de filmes colonial e a descolonização
● A repatriação de filmes e objetos arquivísticos relacionados ao cinema

Aceitamos propostas que se concentrem em estudos de caso específicos, bem como aqueles que façam explorações teóricas mais amplas de qualquer um dos tópicos sugeridos ou outros tópicos relacionados.

Processo de Submissão de Propostas
As propostas ou quaisquer outras questões devem ser enviadas para o e-mail: domitor2026@gmail.com até o dia 5 de setembro de 2025. As propostas para apresentações individuais devem ter no máximo 300 palavras, incluindo uma bibliografia com 3 a 5 referências e uma breve biografia. Além de propostas acadêmicas tradicionais, também aceitamos propostas para ensaios audiovisuais e projetos criativos. As propostas podem ser escritas em inglês, francês, espanhol ou português. Embora esperemos obter financiamento para o serviço de tradução simultânea durante o congresso, os participantes podem ser solicitados a enviar o texto de suas propostas para tradução prévia para o inglês ou francês e/ou apresentá-las em inglês ou francês.

Propostas para painéis pré-constituídos de três ou quatro participantes, ou mesas redondas de quatro a seis participantes, também serão consideradas; tais propostas devem ser submetidas pelo coordenador e conter uma justificativa de 300 palavras para o painel ou mesa redonda, juntamente com as propostas individuais dos participantes ou uma breve descrição da contribuição de cada participante para o painel ou mesa redonda. Embora a filiação à Domitor não seja obrigatória para a submissão de propostas, qualquer pessoa que participe do congresso deve ser filiada à sociedade: https://domitor.org/membership/.

Bolsa de Diversidade
A Bolsa de Diversidade Domitor patrocina a participação no congresso bienal da Domitor por meio de um prêmio de US$ 500 e a isenção das taxas de inscrição. Esta bolsa apoia pesquisas de acadêmicos do Sul Global e/ou que se identifiquem como membros de qualquer comunidade marginalizada. Aceitamos propostas que busquem ou explorem uma ampla gama de métodos (do empírico ao especulativo), bem como abordagens interdisciplinares ao primeiro cinema. Estudantes de pós-graduação, acadêmicos em início de carreira, e acadêmicos não-institucionalizados ou independentes são incentivados a se candidatar. O beneficiário desta bolsa também será convidado a contribuir para os anais do congresso. Se você deseja se candidatar a esta bolsa, não é necessário enviar nenhum material adicional em sua submissão. Basta indicar seu interesse na bolsa no envio de sua proposta para domitor2026@gmail.com. Aguardamos ansiosamente suas propostas.